Isabella Moreira de Britto, estudante do 7º período do curso de Direito (UFPR)
Matheus Kniss Pereira, especialista em Direito Empresarial
Pode-se dizer que, nos tempos atuais, o modelo tradicional de empresa se encontra desgastado. Ao olhar para as maiores gestoras internacionais, é notável o desinteresse em investimentos não sustentáveis.
Assim, a sigla ESG (environmental, social and governance) surgiu, pela primeira vez, em um relatório de 2005, resultado de uma iniciativa liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU)[1].
De maneira geral, environmental significa praticar atos para preservação do meio ambiente, bem como discutir acerca de alguns temas relevantes, tais quais o aquecimento global, a emissão de carbono, o desmatamento e a poluição das águas, por exemplo, de modo que a empresa, como instrumento social, também contribua para o controle sadio e saudável das condições climáticas. Social é a relação da empresa com as pessoas que fazem parte do seu universo, tais como clientes, funcionários e colaboradores, em um ambiente onde o desenvolvimento humano e humanitário deve suplantar o modelo exploratório e predatório tradicional. Por fim, governance diz respeito à administração da empresa, com um comitê de auditoria, políticas anticorrupção e a existência de um canal de denúncias, além da criação de estruturas rígidas de análise e gestão que se destinam a garantir ao mercado a solidez e a seriedade de atuação que deve existir em toda sociedade empresarial organizada.
Para ser classificável dentro da pauta ESG é fundamental que a empresa tenha um bom desempenho em cada uma das áreas supracitadas. Ainda, segundo a conclusão do relatório da ONU, o cumprimento de tais fatores gera mercados mais sustentáveis e melhores resultados para a sociedade.
Importante ressaltar, no entanto, que há empresas cujas informações de impacto divulgadas não são verdadeiras – tratam-se de informações maquiadas, visando obter maiores investimentos. Tal prática é denominada greenwashing, e é constantemente repudiada em razão da apropriação estrita desses conceitos para fins exclusivos de marketing. Ao mesmo tempo, empresas que querem transformar seus projetos em projetos de impacto, mas não conseguem adentrar os parâmetros ESG, são conhecidas como greenwishing, cuja tendência de longo prazo, ao menos no âmbito de uma empresa organizada, é o enquadramento paulatino aos parâmetros ESG com vistas ao ingresso definitivo nesse espectro.
Ainda, para ressaltar a relevância do assunto, a COVID-19 agiu como um catalisador nesse tipo de investimento. Em pesquisa realizada pela MSCI, em 2021, 77% dos investidores entrevistados aumentaram seus investimentos em ESG de forma significativa[2]. Além disso, essas novas exigências refletem o comportamento das novas gerações de consumidores, como a Geração Z, que tem priorizado marcas transparentes e responsáveis, notadamente diante da consciência desenvolvida sob o ponto de vista educacional, ao longo das últimas décadas, sobre a necessidade de se proliferar o comprometimento com as pautas sociais e, especialmente, ambientais.
Conclui-se, dessa forma, que os negócios que seguem boas práticas ambientais, sociais e de governança podem trazer maior lucratividade no longo prazo – tendo em vista, especialmente, essa nova geração de investidores e consumidores, ávidos pelo consumo e que priorizam empresas que expõem dados concretos sobre a sua responsabilidade nesses campos.
Por fim, pode-se dizer que a empresa do futuro é aquela que cuida de todos, não apenas de seus acionistas. É a empresa que gera não somente lucro, embora essa seja a razão da existência da maior parte delas, mas lucro com propósito, destinado não apenas ao acúmulo de riquezas como, também, ao desenvolvimento e à preservação social, ambiental e consciente.
[1] LEITE, Vitor. O que a sigla ESG quer dizer sobre uma empresa? Nubank. 03 de novembro de 2021. Disponível em: https://blog.nubank.com.br/esg-o-que-e/.
[2] MSCI. Global investors accelerate ESG investments in response to pandemic, according to MSCI survey; interconnected risks present challenges. 09 de fevereiro de 2021. Disponível em: https://www.msci.com/documents/10199/51331fff-2b84-396d-2b57-bad161271a4e.